// CRISTÓVÃO, O HOMEM do SACO e A VACA de VILAR de VACAS (1977)


Estreia | 9 de Outubro em Vila Real

Texto escrito em resultado de improvisações

Criação colectiva com membros do Bando, elementos de grupos de teatro amador local e a Tuna de Carvalhais

Esta história fala de uma vaca de uma aldeia à qual chamaram Vilar de Vacas que foi roubada ao aldeão Cristóvão. Muitos trabalhos e embargos passou o dito aldeão para encontrar a sua vaca. Só a conseguiu encontrar com a ajuda do povo da aldeia que descobriu as grandes mentiras pérfidas e artimanhas de abafador do senhor que julgavam ser o mais alto da aldeia.

O que nos interessa aqui é o conflito social que determina a opressão da criança. Quem tem interesse em oprimir a criança, em subjugar outros homens para tentar dominá-los? A classe feudal serviu-se tão bem do veículo da religião para o fazer, como a burguesia se serve hoje do mito, da fada, dos papões, da auto-suficiência das históriazinhas pueris para empurrar os nossos futuros homens e mulheres para o sonambulismo, para o fatalismo, para a ausência de espírito crítico. Quanto mais dourada e "fantástica” for a mentira, mais ela encontra nas "fés” terreno fértil para germinar.
O conflito de gerações, entre pais e filhos, existe. É um subproduto da super-estrutura da sociedade onde vivemos, ditado pelas características económicas e políticas. Mas não é este conflito secundário o móbil da nossa história.
Esta peça de teatro deverá espalhar anti-corpos nos pequenos espectadores que, venham a favorecer o combate à doença senil, do medo opressor das figuras míticas. Por um lado, evitar a empatia, a identificação exacerbada com os heróis das histórias, por outro, ridicularizar o medo das figuras imateriais e denunciar quem se disfarça por trás desses conceitos "poéticos”.
A forma escolhida tem bases na tradição popular do nosso povo e pretende ser como que um mini-auto visual contado por um bobo indefinido no tempo apesar de algumas referências à Idade Média.
A animação é limitada à intervenção oral de algumas crianças no fim do espectáculo. O bobo estará presente para dar resposta aos comentários, dúvidas ou sustos momentâneos que surjam do público. O objectivo da animação neste caso é como que um teste para sabermos se a história foi entendida minimamente e fincar na mente de cada uma das crianças a certeza de que aquela ideia é partilhada e que ela não estará só face aos opressores.

Que a criança se divirta, e saia deste espectáculo mais forte e mais confiante.

(sinopse do espectáculo)


(As pancadas de Moliére serão dadas por vários foguetes e três morteiros. Ouve-se cada vez mais claramente o trecho musical do "Alvorecer” e o sol espreita iluminando o planalto. Assim que o círculo do papagaio-sol se destacar no horizonte, a vida contagia a terra e as flores nascem timidamente ao ritmo do "Alvorecer” e desabrocham ao sabor do vento. Duma das flores que cresceu surge um personagem, envolto numa capa igual à terra. Saiu dum buraco da própria terra e avança mastigando um papo-seco duro. Fala pousadamente, como se o tempo pesasse nas suas palavras e é acompanhado pelo "serrar da lata”)


Bobo: Muita boa noite meus meninos, meninas, minhas senhoras e meus senhores. O Teatro o bando tem a alegria de estrear o seu novo espectáculo "CRISTÓVÃO O HOMEM DO SACO...” aqui mesmo em Vila Real.
Este espectáculo só foi possível graças à preciosa colaboração dos Amigos do Teatro de Folhadela, do Grupo de Intervenção Cultural, do grupo de teatro "A Plebe Transmontana” dum grupo de crianças do Bairro dos Ferreiros, da Tuna de Carvalhais e do Grupo de Acção Cultural.