// À Cerca Disto (1980)


Estreia | 18 de Abril em Paião, Sintra
Colecção de escritos elaborados por Cândido Ferreira

Encenação | Cândido Ferreira

Actores | Isabel Atalaia, Pedro Brites e Teresa Pinto Coelho
Num lugar onde outrora existia muita vida, muitas árvores com deliciosos frutos e muita alegria reina agora a desolação. 
O Dom, único ser vivo daquelas paragens, principal responsável por aquele estado de coisas, senhor de grandes recursos e encantos, solitário mas feliz. 
Do meio das pedras surgiram então como de costume sinais de vida que foram aumentando e crescendo à medida que o Dom se deixava envolver num sono profundo. E de três dessas pedras surgiram então o Serafim, o Ruivo e a Margarida. 
Então o Dom acordou e sentiu-se irremediavelmente perdido. Fugiu para o seu refúgio. Só então se apercebeu que havia perdido grande parte do seu poder sobre aquela gente.

(sinopse do espectáculo)



Margarida - Que fazes aí?
Dom - (do cimo da árvore) Como vêem, sou um pobre velho que para aqui estou, sozinho e condenado... Era muito vosso amigo e quis ajudar-vos a sair desse martírio de não poderem andar nem viver em liberdade.
Margarida - E vais viver assim p’ra sempre?
Dom - Só se alguém me salvasse é que este inferno acabava.
Margarida - E como te podemos salvar?
Dom - Se construírem em vosso redor um muro muito alto que me deixem de ver e eu de vos ouvir.
Ruivo - E tu ficas de fora?
Dom - Tem de ser!
Ruivo - Mas assim ficamos presos dentro do muro!
Dom - Não ficarão presos porque quando o muro estiver pronto e eu já nem na cabeça apanhar o sol de todas as manhãs, voltarei a movimentar-me. Então desço. Ao pôr os pés no chão o muro cairá.