// Visões (1997)

Estreia | 16 de Abril em Estrela'60, Lisboa
Texto | A partir de A Fonte dos Santos, de John Milligton Synge (Irlanda)
Encenação Raul Atalaia | Tradução Maria Helena Serôdio e Maria Leonor Telles | Dramaturgia Maria Helena Serôdio e Raul Atalaia | Assistência de Encenação Horácio Manuel | Cenografia Eric Costa | Música Carlos Marecos | Desenho de Luz João Brites | Técnica Vocal Margarida | Técnicos acrobáticos João Martins | Maquilhagem Jorge Bragada | Perucas Paulo Vieira | Operação de Luz Celestino Verdades | Operação de Som João Paulo Santos | Imagem Gráfica João Rodrigues | Coordenação de montagem Fátima Santos | Assistente Sonoplastia Fernando Figueiredo | Chefe de electricidade Quim Ferreira da Silva | Gestão Eduardo Henrique | Produção Executiva Sandra Simões | Secretariado Andreia Iracema | Tesouraria Helena Lourenço
Com | Ana Brandão, Bibi Gomes, Carla Bolito, Miguel Moreira, Nicolas Brites e Paula Só
Há uma fonte: A Fonte dos Santos. "Há uma santinha que tem percorrido as aldeias. Basta uma gota de água para curar os moribundos ou fazer com que os cegos vejam tão bem como as águias cinzentas que cruzam o céu em voo alto num dia claro”. E será que aquele casal de cegos mal lavados e enrugados, que até brincam e riem, e parecem apaixonados, querem mesmo ver-se um ao outro? Talvez, mas na imaginação dele, a pele dela é branca, o cabelo é loiro, os olhos são grandes. Se calhar, ainda vai pedir aos santos, para o cegarem outra vez, e desta vez, de vez. 

(sinopse do espectáculo)


Adosinda Tadeu: Não mintas a Deus Nosso Senhor.
Avelino Tadeu: És tu, Adosinda Tadeu? És mesmo tu Adosinda Tadeu?
Adosinda Tadeu: estás a falar-me com uma meiguice que eu não sentia há muito tempo. Deves estar a julgar que sou a Cassildinha.
Avelino Tadeu: Bem, não há nada que perturbe mais um homem do que ter vista. Quem havia de dizer-me que ainda algum dia eu havia de ter medo de uma pessoa como tu! Mas deixa lá, que não tarda nada que me refaça desta perturbação.
Adosinda Tadeu: Nessa altura ficas um espanto, garanto-te eu.
Adosinda Tadeu: não sei porque é que estás para aí a falar: já me disseram que estás tão cega como eu.
Adosinda Tadeu: estou, mas não me esqueço de que estou casada com um fulano atarracado e imundo que faz as figuras mais tristes deste mundo, nem me hei-de esquecer daqui para a frente do grande alarido que ele fez só por ouvir respirar uma desgraçada que estava muito quietinha no seu canto.
Avelino Tadeu: mas não esqueças também do que vias ainda há pouco tempo quando olhavas para o fundo de um poço ou para um charco quando não estava vento e o dia estava claro.