// Os Anjos (2003)

Sobre uma longa ponte a céu aberto se liga a vida terrena aos devaneios amorosos. 

Numa família adormecida, há uma criança que se esforça por compreender o mundo dos adultos. Assiste ao vaivém de uma caminhada constante, lengalenga entre o caminho das pedras e o caminho das nuvens... "Mãe! Oh, mãe! O que foste fazer atrás das nuvens?”. Ninguém responde directamente mas há quem diga que sua mãe foi aos anjos apaziguar uma paixão abrasadora. Como na banda desenhada, uma família flutua, brincando, sobre a ponte, onde se entrecruzam o passado, o presente e o futuro.

(As voltas do avô)

Uma Menina Como Uma Filha: Então avô?

Um Velho Como Um Avô: Ai, estou para aqui às voltas. Até a mim me faz impressão.

Uma Menina Como Uma Filha: Perdeu firmeza nas pernas?

Um Velho Como Um Avô: Parece que o chão foge debaixo dos pés.

Uma Menina Como Uma Filha: E os braços, avô?

Um Velho Como Um Avô: Estão para aqui pendurados, como se não me pertencessem. Ai, ai. Fazia bem às dores

Uma Menina Como Uma Filha: Ele não presta para nada!. Não presta para nada! Não presta...

Um Velho Como Um Avô: Ai, ai. O Serafim pode ser tudo isso que dizem, mas é também um bom homem.

Uma Menina Como Uma Filha: Bom homem? Bom? Bem, ele disse-me que passasse lá em casa para ir buscar o seu remédio.

Um Velho Como Um Avô: O remédio fez-me bem às dores . 

Uma Menina Como Uma Filha: Mas toda a gente...

Um Velho Como Um Avô: É urgente que vás buscar mais!

Uma Menina Como Uma Filha: Toda a gente diz que dele só querem distância.

Um Velho Como Um Avô: Vai pelo olival, escusas de atravessar a aldeia e de perder tempo a falar com este e mais aquele.